Lá estava…. Ela… Quieta… Como à sua volta não pertence-se a ninguém. Eu, por palavras esforçadas, disse-lhe para levantar-se e vir comigo. Precisava dela, pois era isso o que mais queria nesse momento, nós, juntos contra marés inimagináveis, em que cada onda era uma simples conjunção de coisas Insignificantes.
Respondeu-me e eu não percebi. Pedi-lhe para dizer novamente com a sua suavidade do costume, calou-se.
Eu queria mais, queria que ela viesse e embarca-se nesta viagem incrível que se chama Viver.
Mas não, continuava sentada no mesmo sítio do costume como tudo à sua volta nem sequer estivesse lá.
E eu, tentando-me fazer real, cheguei-me mais perto e acariciei-lhe a face que descrevia tudo o que se passava. Pareciam rosas que ainda não tinham encontrado o seu cheiro matinal.
Sussurro em um tom claro e límpido para ela perceber que eu não queria mal, só me bastava estar com ela, ficando tempos sem fim a observar aqueles olhos de gota de água límpida e transparente.
Então, como vindo das profundezas do seu ser, ela levanta-se, grita, exalta-se, dizendo que tudo não passa de um sonho e que eu não sou real, e que assim a magoarei ainda mais, pois tudo aquilo não é, senão, produto da imaginação. Assim que me disse isto, como uma seta que acabara de trespassar o coração dos mais infiéis, agarro-a e levo-a de ali para fora.
Abro a porta com uma raiva crescente devido a ela não acreditar e mostro-lhe a vida… A vida nua e crua como ela é, onde por vezes magoa, onde por vezes fere-se, mas onde por vezes… Se ama.
Ela fica fascinada com tudo à sua volta. Começa a perguntar o porquê das coisas, como uma criança que começa a dar os seus primeiros passos das palavras proferidas sem mal.
Eu explico-lhe que tudo não passa de acreditar se não nela própria.
Ela fita-me com os olhos, não entendeu o que acabei de dizer.
Explico-lhe novamente que a vida é deixar-se viver.
Ela continua sem perceber.
Agarro-a novamente, e fujo, para bem longe, para onde o mundo se iniciara a alguns anos atrás.
- “Vês aquele ponto, é onde tudo começou, onde toda a matéria acumulada está pronta a explodir, isto… É viver enclausurado. Devemos deixar que esta bomba rebente, e leve-nos a sítios magníficos e incríveis, pois só isso será deixar-nos viver.”
Ela olha para o pequeno ponto reluzente num pano escuro e frio, e toca-lhe… Uma explosão de cores magníficas dá-se, onde nenhum pintor conseguirá alguma vez repetir aqueles efeitos que eu próprio vi.
O interior está agora à vista de todos e eu… Vi!
Aquele interior tão belo, tão fugaz, tão livre, estava ali…
Mas observei de mais perto, apercebi-me que tudo aquilo ainda tinha o tal pano escuro e frio.
Perguntei-lhe o porquê? Porque ainda estava aquela cor ali.
Não me soube responder. Perguntei-lhe mais alto para ver se me ouvia… Mas não ouviu novamente. Continuei a gritar, e neste ponto começou tudo a fugir. Tudo o que tinha visto e conseguido estava agora a desmoronar mesmo à minha frente, aquelas paisagens magníficas estavam a deteriorar-se como um castelo que acabara de ser lacerado com as rochas frias, feias e pútridas.
Acabei por voltar à razão, levantei-me, e comecei a escrever… E agora estou aqui… Sozinho. Abandonado à minha escrita, como a mulher alguns momentos atrás.
Esta é a viagem da imaginação. A imaginação que não passa disso mesmo. Pensamentos livres e sem barreiras. Onde tudo, mas mesmo tudo à nossa volta… Se cria, se sente, se toca, se cheira, se prova… Mas… Que não é real.
Não é real, até nós mesmos acreditarmos na prova irrefutável, que cada um de nós tem uma imaginação só sua e que deve ser expressada, amada… Sentida.
Não deixes de acreditar nunca que tu consegues mover o teu mundo com a tua essência...não deixes nunca de lutar pelo amor, tão profundo, tão real que sentes.
ResponderEliminarHá coisas que podem ser dificeis mas só se tornam impossíveis como deixamos de acreditar...